#11 – Abusiva
Porra. Era mentira. Tudo mentira.
Era só o que eu pensava a caminho do quarto. Nem chorar eu conseguia. Parecia ter engolido todo o ar da atmosfera sulfurosa que cercava a nossa briga. A vontade era só sair dali, sem rumo, sem direção, nem que fosse com a roupa do corpo.
Ela não ofereceu resistência. Viu a arrumação da mochila, provavelmente pensando que a minha covardia era maior que a minha raiva. Tudo o que eu tinha dava em uma mochila. E a minha sanidade dependia da minha fuga. Era isso que importava. Mas a carga que eu carregaria dali em diante seria bem maior.
Tinha alguma grana de uns serviços do Alencar, e mais o dinheiro que eu recebia do meu pai pelas tarefas, daria para sair dali. A imagem da minha mãe era tão opressora. A violência em que ela disse aquilo, o poder de destruição de uma pessoa. De fato, temos em nós a maldade e a bondade do mundo. Tive uma gota de arrependimento de mexer naquela história. Aquela frase clichê que “ a verdade liberta” é a maior das mentiras. Contraditório, não?
A verdade obriga. Há coisas que quando descobertas nos obrigam a agir, a mudar. Eu não tinha mais ninguém. Os amigos se foram, os meus pais não eram quem eu imaginava que fossem. Pai que não era pai. Um desconhecido que fez o favor de criar um bastardo. Mãe puta. Eu estava fadado a descer pela privada, mas por ironia, e piada do destino, sobrevivi. Senti-me um merda. A colocação pronominal faz parecer poesia o que não é.
Saí em direção a rodoviária. Minha mãe deve ter achado que eu iria para a casa de alguém. Gritou:
– É bom que volte hoje. Se dormir fora, nem volta!
Fui para a rodoviária e vi o lugar mais distante que o meu dinheiro poderia pagar. Rio de janeiro.
Pensei que poderia descobrir minha verdadeira história lá. Ledo engano.